Psiquiatria Clínica

Tal como em medicina, perante uma colecção de sintomas, caberá ao psiquiatra pensar/sentir sobre as suas causas. Em psiquiatria contudo, os fenómenos psicopatológicos são influenciados por com-causas (causas que se interdigitam) e os fenómenos são de patologias diversas. Os fenómenos mentais são, assim, complexos e são também sentidos pelo observador numa dialéctica com um “tu” e um “eu”, espelhado na ideia de que nada do que é do outro me é a mim, inteiramente estranho.

O modelo clínico fica ainda mais complexo, quando percebemos que pensamentos, sentimentos e comportamentos não são apenas influenciados por factores de natureza biológica, aprendidos e situacionais, mas também os influenciam em círculo… temos, portanto, uma tarefa fascinante, esta de compreender a Pessoa no seu caminho único, numa história clínico-vital também única e irrepetível.

Fascinante também pelos notáveis avanços verificados na clínica da perturbação e do sofrimento mental. A textualidade de Emil Kraepelin (fundador da psiquiatria clínica, 1856-1926) assenta numa grande práctica clínica e numa experiência hospitalar notável.

 

Felizmente, a realidade evoluiu. Os avanços da psicofarmacologia e dos novos enquadramentos terapêuticos, são notáveis num tão curto espaço de tempo (os primeiros medicamentos surgem na década de 50 do século passado) e permitem hoje, num contexto diverso e plural, sem ciências hegemónicas, abrir cenários e expectativas impensáveis há uns anos atrás. Sempre na senda do reconhecimento da dignidade do paciente em sofrimento mental e do direito à saúde mental que continua, ainda assim, a ser considerada pelos poderes públicos como parente pobre da saúde pública.