Caracterização do movimento assistencial em termos de saúde mental no nosso país?
O quadro assistencial, em termos de saúde mental no nosso país, tem vindo a sofrer nos últimos tempos profundas modificações (alguém as apelidou de verdadeira “revolução”, referindo-se aos contornos da aplicação da actual Lei de Saúde Mental), que implicam desenvolvimentos conceptuais em termos da própria doença mental, no planeamento estrutural da prestação de cuidados, no desenho das redes assistenciais, etc. São, não há dúvida, novos tempos que a história se encarregará de avaliar… neste “afã de fazer…” adivinham-se movimentos ou actos fracturantes com repercussões negativas em termos da componente social e pública (mais frágil…) da questão.
O movimento, até ao momento e na prática, tem-se caracterizado por um notável emagrecimento da estrutura de cuidados, com encerramento de serviços de internamento, de estruturas hospitalares, de camas e chegou mesmo ao encerramento de serviços de urgência psiquiátrica (centralização das urgências nos três grandes centros), empobrecendo os Hospitais Gerais onde eles funcionavam, empobrecendo as condições de prestação dos cuidados, esgotando os recursos humanos existentes e tocando ou ferindo a qualidade dos serviços e da relação médico-doente (que se quer e deseja sempre terapêutica).
Todo este movimento, é conduzido numa aparente tábua rasa da história (parece que só agora se vão iniciar os cuidados na comunidade e de proximidade), e com notável afastamento (denegação), por parte da elite dirigente, de uma porção muito significativa da experiência e do conhecimento de outros agentes importantes na mudança. A clivagem entre dirigidos e dirigentes é uma realidade, as relações inter-pares foram tocadas de morte, e não é hoje gratificante trabalhar no sector público, sobretudo na área da saúde mental. Tenho esperança que surjam implementadas, no curto prazo, as estruturas terapêuticas/assistenciais e de reabilitação em falta no terreno.